«Hoje leitor, amanhã leitor» é o mote
que serve, este ano, de inspiração às dinâmicas da Semana da Leitura promovidas
no âmbito do Plano Nacional de Leitura, no nosso país. Porquê festejar a
leitura e assinalar a sua importância no espaço público, em especial nas
escolas e nas famílias?
A promoção da leitura continua a ser, em
tempos de constante mudança como os que vivemos, um tema da atualidade que
exige reflexão e novas formas de abordagem. Se é um dado adquirido que melhores
níveis de leitura têm uma correspondência direta com o sucesso pessoal e
profissional das pessoas, ainda não é completamente clara, para os peritos
nesta questão, a forma como devemos continuar a criar e a fidelizar leitores. Abordagens
tradicionais devem, portanto, coexistir com outras mais arrojadas, pois o
contexto atual é diferente do de alguns anos, quando o acesso ao texto escrito
se fazia quase exclusivamente através do suporte impresso e a maior parte das
vezes mediado por escritores, editores ou jornalistas.
Promover a leitura continua a ser um
tema e um desafio da atualidade porque fazer leitores hoje significa criar
cidadãos que compreendem o mundo em que vivem, aprendem a aceitar, mas também a
argumentar e a fundamentar as suas opiniões, desenvolvendo, através da leitura,
uma atitude crítica. No espaço e no tempo atuais, em que utilizamos os
diferentes media e os aproveitamos
para nos expressarmos, torna-se premente que a opinião que cada um constrói
sobre o mundo seja uma opinião fundamentada, esclarecida, respeitadora da
opinião dos outros e que decline todo o tipo de ódios e de preconceitos.
Como fazer? Como educar crianças e
jovens que se tornem leitores e se mantenham adultos leitores? Nestes tempos de
aceleração, do império da imagem sobre a palavra, do acesso à palavra através
da Internet e, por conseguinte, de uma miríade de artefactos tecnológicos, é
necessário que exista um equilíbrio no tipo de abordagens que se fazem à
promoção da leitura.
A literatura continua a ser um veículo
privilegiado, seja através do suporte impresso ou do digital, para proporcionar
o encontro da criança e do jovem com o Outro, para desenvolver nele a
imaginação e a criatividade, para o conduzir a conhecer a sua História e a
História dos outros, para lhe ensinar o valor da palavra e a sua beleza. Mas os
jornais, as revistas e os livros científicos, em todos os suportes, deviam
também fazer parte das nossas práticas de leitura diárias, porque pode ser
através destes meios que a criança e o jovem descubram o prazer de ler e de querer
saber mais, aprendam a cruzar opiniões, recorram a nova informação para poderem
decidir, desenvolvam uma atitude crítica.
A promoção da leitura não pode,
portanto, ser um assunto apenas de alguns. De alguns professores, de alguns
pais, de alguns bibliotecários, de alguns meios de comunicação social. Deveria
ser um assunto de todos. Se aos (professores) bibliotecários e aos professores
cabe o papel de mediadores mais informados, porque detêm técnicas e saberes
específicos sobre a arte de ensinar a ler e de motivar para a leitura, aos pais
e à sociedade em geral cabe o papel de mediadores que valorizam a leitura, que
dão o exemplo, que participam na formação dos futuros cidadãos.
Na Semana da Leitura, em todo o país,
festejamos a leitura, dinamizando atividades muito diversas que envolvem
parcerias diferentes. Fazer leitores hoje, que permaneçam leitores amanhã,
requer, contudo, que defendamos, durante todas as semanas do ano, a causa da
leitura, que desenvolvamos programas sólidos, que tornemos sistemáticas as
nossas práticas, que valorizemos a leitura e a escrita como armas contra o
obscurantismo e a favor do conhecimento e da sabedoria.
Raquel Ramos
Coordenadora Interconcelhia da Rede de
Bibliotecas Escolares
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